Chegada do caixão com o corpo do arquiteto Oscar Niemeyer
O velório de Oscar Niemeyer no Rio será aberto na manhã desta
sexta-feira (7), no Palácio da Cidade, em Botafogo, na Zona Sul.
Previsto para começar às 8h, até as 8h10 não havia iniciado. Segundo a
assessoria da Prefeitura do Rio, alguns parentes são aguardados para uma
breve cerimônia antes da abertura para o público. Durante a madrugada, a
cerimônia foi restrita. O arquiteto
morreu às 21h55 de quarta-feira (5), aos 104 anos, em decorrência de uma infecção respiratória, no Hospital Samaritano, também em Botafogo.
O corpo do arquiteto voltou à cidade na noite desta quinta-feira (6),
após um primeiro velório em Brasília. De acordo com o Terceiro Comando
da Força Aérea Regional, o corpo chegou ao Aeroporto Santos Dumont às
22h08 e, em seguida, foi levado para o Palácio da Cidade, onde chegou às
22h35.
Corpo de Niemeyer será velado no Palácio da
Cidade
O enterro está programado para o fim da tarde desta sexta, no Cemitério São João Batista, também em Botafogo.
A viúva Vera, o sobrinho Paulo, e o neto Carlos
Oscar Niemeyer foram os primeiros a chegar ao Palácio da Cidade.
Lembranças do neto
O neto contou que trabalhou com o avô durante 13 anos e lembrou dos ensinamentos que recebeu.
"Eu trabalhei com o Oscar durante 13 anos e aprendi com ele três coisas
importantes. Ele dizia a vida é um segundo, isso quer dizer que a gente
tem que viver uma vida bem vivida; falava também que o mundo é injusto,
temos que modificá-lo; e que a palavra mais bonita é solidariedade",
ressaltou o neto, acrescentando que "o Oscar teve uma vida de trabalho,
de amizades, fazendo só coisas boas, então acho é normal que ele seja
uma pessoa querida. Lá em Brasília estava todo mundo emocionado",
concluiu Carlos Oscar.
Velório em Brasília
À tarde, segundo estimativa da Polícia Militar (PM) do Distrito
Federal, 3,8 mil pessoas, em fila, passaram pelo Salão Nobre do Palácio
do Planalto nas três horas e 45 minutos de velório.
A previsão era que o velório se encerrrasse por volta das 21h, mas a
familia decidiu antecipar a volta ao Rio. Cerca de cem pessoas que
aguardavam a passagem do caixão do lado de fora do palácio cantaram o
Hino Nacional em homenagem a Niemeyer.
Oscar Niemeyer completaria 105 anos no dia 15. Ele estava internado havia pouco mais de um mês.
No Planalto, Dilma e a viúva de Niemeyer foram as primeiras a se
aproximar para observar o corpo. A tampa do caixão não foi retirada.
Apenas uma abertura de acrílico permitia que se visualizasse a face do
arquiteto.
O vice-presidente da República, Michel Temer, e os presidentes do
Senado, José Sarney, da Câmara dos Deputados, Marco Maia, e do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também foram se despedir de Niemeyer.
Temer fez o sinal da cruz ao se aproximar do caixão.
Em seguida, se formou uma fila de autoridades no salão nobre do
Planalto para prestar a última homenagem ao arquiteto famoso. A
presidente Dilma se manteve o tempo todo, em pé, ao lado da cadeira onde
estava sentada a viúva de Niemeyer.
Ministros de Estado, parlamentares, governadores e prefeitos que
compareceram ao velório cumprimentaram Vera Lúcia e manifestaram
palavras de apoio.
Por volta das 16h15, Dilma pediu que seu chefe de gabinete conduzisse a
viúva ao terceiro andar do palácio, onde fica o gabinete presidencial.
Em seguida, a própria presidente deixou o salão acompanhada da chefe da
Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
O velório de Niemeyer é o terceiro realizado no Salão Nobre do Palácio
do Planalto. O primeiro foi o do ex-presidente Tancredo Neves, em 1985. O
segundo foi o do ex-vice-presidente José Alencar, no ano passado.
Luto oficial
Nesta quinta, Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias. O
decreto deverá ser publicado no "Diário Oficial da União" nesta sexta
(7). Durante o período de luto, a bandeira nacional deve ser hasteada em
meio mastro em todas as repartições públicas, estabelecimentos de
ensino e sindicatos.
Dilma ao lado da viúva Vera Lúcia, durante o velório de
Niemeyer no Planalto
A lei prevê que, no caso de morte de autoridades civis ou militares, o
governo pode decretar luto de, no máximo, três dias. A lei prevê, porém,
que "em face de notáveis e relevantes serviços prestados ao país" pela
pessoa falecida, o período de luto poderá ser estendido até no máximo
sete dias.
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, decretou luto oficial de sete dias pela morte do arquiteto.
MSTUm grupo de integrantes do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST) prestou uma homenagem a Oscar Niemeyer
durante o velório do arquiteto no Palácio do Planalto.
Portando bandeiras, camisetas e bonés do movimento entraram na fila do
público que deu o último adeus ao arquiteto. No momento em que entraram
no Salão Nobre, os sem-terra se posicionaram diante do caixão para ler
um manifesto. Ao longo dos cerca de três minutos de homenagem, os
membros do movimento classificaram o idealizador dos principais
monumentos de Brasília de “um sábio, solidário e comunista”.
“Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida e um
incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos. Era
comunista, não por doutrina. Mas porque acreditava que todos os seres
humanos são iguais e que deveríamos ter as mesmas condições de vida. Por
isso, foi acima de tudo um companheiro de todos nós”, disseram os
integrantes do MST.
Entre os cerca de 50 sem-terra que foram ao Planalto para se despedir
de Niemeyer havia homens, mulheres e crianças. O grupo disse ter “imenso
orgulho de ter sido amigo” do arquiteto famoso. Antes de deixar o
salão, os sem-terra cantaram o hino da internacional socialista e
aplaudiram Niemeyer.
Homenagens
De acordo com a assessoria do Planalto, foram enviadas 45 coroas de
flores que serão doadas nesta sexta para uma instituição de assistência
do Distrito Federal, a exemplo do que ocorreu após o velório do
ex-vice-presidente José Alencar. Consultada, a família concordou com a
doação.
Cortejo
O corpo de Oscar Niemeyer chegou a Brasília às 14h18 desta quinta-feira (6),
trazido do Rio de Janeiro em um avião da Presidência da República,
e seguiu em cortejo em carro aberto até o Palácio do Planalto, passando
pelo Eixão Sul e pela Esplanada dos Ministérios, onde estão as
principais obras do arquiteto na capital do país.
Palácio do Planalto
O velório de Niemeyer ocorreu Palácio do Planalto, projetado pelo
próprio arquiteto, por iniciativa da presidente Dilma Rousseff, que fez a
oferta à família.
No prédio, inaugurado em 21 de abril de 1960, fica o gabinete da
presidente Dilma Rousseff. A construção começou em 10 de julho de 1958.
A inauguração do palácio ocorreu em 21 de abril de 1960, como parte das
festividades da inauguração de Brasília e marca a história brasileira
por simbolizar a transferência da capital federal para o centro do País,
no governo de Juscelino Kubitschek.
'Só falava em viver'
O médico Fernando Gjorup disse, na noite de quarta-feira, que Oscar
Niemeyer conversou com a equipe médica sobre a vontade de realizar novos
projetos, mesmo aos 104 anos. Segundo ele, o arquiteto só perdeu a
consciência pela manhã, após ser sedado. O médico, que cuidou dele por
15 anos, afirmou que Niemeyer pouco falava sobre a saúde.
"Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre
novos projetos. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia
que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só
falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a
fragilidade de um senhor de 104 anos", disse Gjorup.
Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos
últimos dois dias. O arquiteto era submetido a hemodiálise e seu estado
imunológico já era deficiente. Cerca de 10 familiares estavam na Unidade
Coronariana do hospital quando Niemeyer morreu.
Repercussão
Em nota, a presidente
Dilma Rousseff lamentou a morte de Niemeyer
e disse que "poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas
acontecer como ele". "Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma
nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva". O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota divulgada pelo
Instituto Lula, afirmou que Niemeyer "ficará sempre entre nós, presente
nas linhas dos edifícios que plantou no Brasil e em todo o mundo".
Dezenas de outros políticos, arquitetos, artistas, apresentadores,
jornalistas e personalidades brasileiras se manifestaram sobre a morte
de Oscar Niemeyer. (
Leia o que familiares, amigos e famosos disseram sobre o arquiteto.)
Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. Em
2006, ele teve de ficar no hospital por 11 dias após sofrer uma queda e
passar por uma cirurgia.
Em 2009, ficou internado por 24 dias no Hospital Samaritano, entre
setembro e outubro, após sentir dores abdominais. Ele chegou a passar
por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana
depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.
Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital
Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores
lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica
algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia
indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.
Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.
Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de
infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a retirada
da vesícula e de um tumor no intestino.
Em maio deste ano, Niemeyer também esteve internado, quando deu entrada
com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem pela UTI,
recebeu alta.
No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano
após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou
internado por duas semanas.
A última internação foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano,
seis dias depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido
a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
Trabalho para festejar 104 anos
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar
os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê
de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Em agosto de 2011, ele lançou o livro "As igrejas de Oscar Niemeyer"
(Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.
Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16
obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua
carreira.
"As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me
interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus
avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui
criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a
ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer
um mundo melhor", explicou na ocasião.
Destaque na arquitetura mundial
Niemeyer foi um dos arquitetos
mais premiados e influentes do mundo.
Seu trabalho, sempre cheio de curvas em concreto que tornavam seu
estilo inconfundível, marcou a paisagem urbana do Brasil e de outros
países.